domingo, 23 de outubro de 2011



Nessas noites de inverno, pinto imagens de nós dois dividindo um calor só nosso. Alheios às tempestades, aos ventos, protegidos do frio cortante que habita a rua vazia. Crio cenas nossas, olhando a lua enrolados nos braços um do outro, dentro de um mundo que só nós compartilhamos. Vejo-nos juntos, esquecidos de tudo e por todos, acompanhados de uma xícara de café e outra de chocolate.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011



        Sentada numa cadeira dura, fria e gasta, ela encara o reflexo borrado num espelho rachado. Um milhão de demônios a atormentam. Provocam o extrapolar do limite.

            Os olhos castanhos vidrados manchados pela maquiagem negra, grandes demais para o pequeno rosto ausente de luz, tão pedintes de algo; numa súplica silenciosa que escorre num caminho de infinitas lágrimas.
            Cabelos negros encaracolados emolduravam a face e escorriam longos pelas costas da menina, que tentava encontrar-se na imagem quebrada do espelho antigo e enferrujado. Mas o que ela via?
            Os lábios róseos sujos pelo rubro batom – destoando das paredes amarelo-gasto do quarto, agora escuro, com cama de ferro descascado que range até com a brisa que entra pela janela de madeira escurecida que em seus dias de glória até poderia ser dita bonita – mudos numa sufocante vontade de grito, mas não recebendo nem bocejos; gemidos frustrados num idioma indecifrável; caroço na garganta.
            As mãos trêmulas de unhas tortas com esmalte barato descascado no que um dia foi um preto brilhante agarram torpes os braços finos e fracos num abraço que implora socorro a si mesmo. Num abraço sem calor, sem amor, sem nada.
Vazio.
            As pernas magras recolhidas junto ao peito coberto por uma camisa velha que há muito tempo foi azul-marinho, arrepiadas e geladas, porém dormentes. Dormentes como o coração da frágil moça que agora fecha os olhos, naquela mesma posição, ao sair do primeiro raio de sol e finalmente dorme.

sábado, 1 de outubro de 2011




Nós faremos tudo
Tudo
Por nossa conta

Nós não precisamos
De nada
Ou de ninguém


Se eu me deitar aqui
Se eu simplesmente me deitar aqui
Você deitaria comigo e só esqueceria do mundo?

Eu não sei bem
Como dizer
Como eu sinto

Aquelas três palavras
São ditas demais
Elas não são o suficiente


Se eu me deitar aqui
Se eu simplesmente me deitar aqui
Você deitaria comigo e só esqueceria do mundo?

Esqueça o que nos falaram
Antes que fiquemos velhos demais
Mostre-me um jardim que esteja ganhando vida

Vamos passar o tempo
Perseguindo carros
Em volta de nossas cabeças

Eu preciso da sua graça
Para me lembrar
De achar a minha própria


Se eu me deitar aqui
Se eu simplesmente me deitar aqui
Você deitaria comigo e esqueceria do mundo?

Esqueça do que nos falaram
Antes que fiquemos velhos demais
Mostre-me um jardim que está se abrindo para a vida.

Tudo o que eu sou
Tudo que já fui
Está aqui nos seus olhos perfeitos, eles são tudo o que consigo ver


Eu não sei onde
Confuso sobre como, também
Apenas sei que estas coisas jamais mudarão para nós
Se eu me deitar aqui
Se eu simplesmente me deitar aqui
Você deitaria comigo e esqueceria do mundo?